Pedaços de Alcongosta

Instantâneos da Terra da Cereja

(António Palhinhas a refogar as varas no Rego D`Água)

Eram muitas dezenas, mas com o passar dos anos o número fica cada vez mais reduzido. O trabalho que dá, a vulgarização do plástico, a emigração e a melhor rentabilidade de outras actividades impediram que a renovação dos cesteiros de Alcongosta se fizesse. Já não podemos falar em gerações, porque já há muito que os filhos de pais cesteiros deixaram as oficinas.

Hoje foi a enterrar um dos poucos que restam, o ti António Palhinhas, falecido ontem. Já eram poucos, a curto prazo esta actividade, que se confunde com a história da própria aldeia, vai acabar por se extinguir. E é pena. Vão restar apenas duas ou três pessoas mais novas, na casa dos 50/60, que sabem da arte mas não fazem disso a sua actividade.

Se calhar é altura de se pensar em fazer alguma coisa, esperemos que não seja tarde demais. O curso profissional de que se falou em tempos nunca se realizou. Já era qualquer coisa, desde que a selecção dos candidatos, tal como a análise das suas motivações, fossem feitas criteriosamente.
Entretanto, resta-nos assistir ao definhar de uma arte. A velhice, que retira a alguns as forças para trabalhar, ou a morte, vão acabar por conduzir ao desfecho previzível...

A foto foi uma da várias enviadas pelo João Nuno Leve sobre o tema, já há algum tempo. Esperava pô-las quando falasse mais aprofundadamente sobre o tema, mas a ocasião pareceu-me adequada. Também o Nélson Fevra enviou do avô. Em breve vão ser postadas. A quem tiver mais imagens sobre os nossos cesteiros e possa enviar (sobretudo antigas, mas não só), desde já obrigado.

O ti Palhinhas junta-se a mais duas pessoas falecidas este mês em Alcongosta. A Deolinda, na casa dos 40 e tal, e a ti Ana Catarrala. Cá continua a freguesia a perder população. Porque os que morrem são incomparavelmente mais que os que nascem. E muitos vão embora.

2 comentários:

Anónimo disse...

É com enorme pesar que tomo nota desta notícia. Na semana que sucede o aparecimento de um cesteiro de Alcongosta, o “Tarifa”, nos órgãos de comunicação social nacionais, a arte da cestaria sofre mais uma perda.
Na qualidade de neto de um dos últimos artesãos que fizeram vida da cestaria, é num misto de nostalgia e tristeza que vejo a evolução de uma sociedade descartável, matar o tradicionalismo. Como é referido e muito bem, a durabilidade e eficiência do plástico, foi um duro golpe na arte. A oferta de alternativas descartáveis veio contribuir para que a viabilidade dos produtos provenientes da cestaria em madeira de castanho fosse posta de parte.
Embora assista ao declínio desta arte com muito pesar, guardo da cestaria objectos e memórias. Pois é difícil esquecer o cheiro da madeira de castanho a perfumar as brincadeiras que tive com os meus primos na oficina do meu avô. É difícil esquecer das histórias que ouvi contadas pelos meus avós enquanto estava sentado dentro de um cesto. É difícil esquece a brincadeiras nos aparos. É difícil…
A arte da cestaria esteve demasiado tempo na minha família para ser esquecida desta forma. Inevitavelmente, ficaram objectos e memorias dignas de um museu.

Saudações...
Nelson "Fevra" Rafael

Unknown disse...

Para já . Neste difícil momento as sinceras condolências à família Palhinhas.
Luís Sérgio

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