Pedaços de Alcongosta

Instantâneos da Terra da Cereja



O Hospital Distrital do Fundão, construído em 1955, ampliado em 2010 e esvaziado paulatinamente de serviços e funções ao longo dos anos, pode estar a caminho da privatização. Num país em que tudo parece ser privatizável, dos serviços menos aos mais essenciais e estratégicos, não nos devíamos espantar. Mas essa capacidade ainda não está esgotada. A tal ponto que essa revelação até a Câmara do Fundão e a administração do Centro Hospitalar Cova da Beira deixou perplexos. Ao que parece, tudo foi feito nas suas costas. 

Segundo as informações dos últimos dias, a Santa Casa da Misericórdia do Fundão assinou um acordo de princípio com o Ministério da Saúde com vista a vir a assumir a gestão do hospital. De acordo com o provedor, Jorge Gaspar, esse seria um passo para inverter o esvaziamento de que a unidade tem vindo a ser alvo, reforçando-a. O presidente do município, Paulo Fernandes, receia que a estrutura venha a ser transformada num hospital de rectaguarda, uma espécie de lar, resumida a cuidados continuados e já pediu uma reunião urgente ao Governo para perceber o que está em causa. Já o Centro Hospitalar Cova da Beira afirma ter sido surpreendido.

Até a intenção se concretizar - se é que se vai concretizar - ainda há um longo caminho a percorrer. Como tudo é muito vago e incerto, é natural que os utentes se questionem sobre as consequências, a prazo, de o hospital da cidade deixar de ser gerido pelo Sistema Nacional de Saúde. Se terá benefícios ou não para a cidade e para a população, só o tempo o poderá dizer. Agora, não é de prever que o utente saia beneficiado. 

Para o estado entregar a unidade à Santa Casa, esta tem de garantir que baixa os custos em 25 por cento. Acho que até o mais crédulo há-de duvidar de como é que reduzindo os custos em um quarto, se pode melhorar o serviço. Aguardemos. Por outro lado, faz sentido existir um Centro Hospitalar com apenas um hospital? Como é que fica o papel do CHCB? Que implicações isso poderá ter em outras dimensões, como o ensino universitário, as transferências de verbas, a criação de novas valências? E as relações entre estas três entidades, depois de aparentemente a câmara e a administração do hospital se sentir apunhalada pelas costas. Como vão ficar? Esperemos por respostas.

A intenção é boa ou má? Como diria o cego, a ver vamos. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.

PS - A título de curiosidade, o Hospital do Fundão foi ampliado em 2010. O reestruturado edifício foi projectado pela Proengel e construído pela Constrope, ambas empresas de um dos reclusos mais famosos do momento, Carlos Santos Silva, alegado testa de ferro de José Sócrates nas presumíveis manobras de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.



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