Pedaços de Alcongosta

Instantâneos da Terra da Cereja

16 agosto 2017

Cinza e negro









A nossa Serra da Gardunha ardeu. Outra vez. Desta feita de um limite ao outro, sem contemplações. Ontem e hoje viveram-se momentos de aflição em Alcongosta, quando as chamas, ameaçadoras, engoliram o verde, entraram no limite da área urbana e assobiaram com violência junto às paredes das casas do Cimo do Povo e do Casal da Ponte.
As pessoas estão cansadas, exaustas, tristes, incrédulas. Não dá, neste momento, para ter uma ideia global dos estragos. Perderam-se pomares. Muita gente perdeu o trabalho de muitos anos. Amanhã será outro dia. Um dia cinzento, por certo, apesar do calor. O cinza do estado de espírito das nossas gentes e o cinza que vamos ver ao acordar e que vai dominar a paisagem nos próximos tempos.
Não é hora de pensar nas consequências de quando vierem as primeiras chuvas. Não é hora de apontar o dedo. Esse momento chegará e oxalá tenha repercussões.

Em Alcongosta, Fundão, as chamas não deram tempo “nem para rezar”.

Na aldeia de Alcongosta, no concelho do Fundão, os habitantes andaram "noite e dia" de coração nas mãos, por causa de um fogo que foi e voltou, não dando sequer tempo para rezar.O incêndio não deixou ninguém descansar, ameaçando a aldeia de Alcongosta desde segunda-feira."Tentei salvar o que tinha: foi agarrar na mangueira e regar tudo enquanto houve água", disse à agência Lusa João Miguel, com ar cansado e desalentado, que fala de um incêndio que provocou um "barulho ensurdecedor"."Estou com o coração nas mãos", diz o habitante, enquanto os familiares convencem-no a ir para o centro da aldeia, por causa do fumo.A alguns metros de João Miguel, Encarnação Rolão protege-se do fumo com um lenço. Está sentada, depois de horas a tentar defender a casa da filha."Chegou mesmo aqui", frisa, apontando para as traseiras da habitação.Encarnação fala de "uma tristeza", que não sabe quando acaba.Já o presidente da junta de freguesia de Alcongosta, Miguel Baptista, acredita que, depois do dia de hoje, as chamas já não voltam com a mesma intensidade, "porque ardeu tudo o que tinha para arder".Na aldeia, "fez-se tudo o que se conseguiu e protegeram-se as casas", conta, garantindo que no perímetro da aldeia a Serra da Gardunha estava limpa."Já vi outros fogos, mas nunca um tão violento como o de hoje", sublinha Joaquim Fortunato, de 71 anos, que diz que "a noite foi igual ao dia: sempre com muito medo do pior".Do cimo da aldeia de Alcongosta, onde o fogo chegou perto das casas, não se vê nada em redor - apenas fumo.O presidente da Câmara, Paulo Fernandes, viu hoje um descontrolo das chamas que já tinha constatado na segunda-feira ao final do dia, classificando por diversas vezes a situação como "dramática" e apelando constantemente a um reforço de meios."É um inferno", vinca.De acordo com o autarca, as chamas progridem em Vale de Prazeres e em direcção ao Alcaide, havendo também uma frente descontrolada em direcção, novamente, à sede de freguesia de Souto da Casa.Lusa

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